domingo, 21 de agosto de 2011

“Sabem de uma coisa? A flauta do Patápio apareceu e já foi entregue a ele”.


Fonte: http://www.revivendomusicas.com.br/biografias_detalhes.asp?id=468

PATÁPIO SILVA (1881 - 1907)

Rio de Janeiro, 1900/1901. Naquele alvorecer do século XX, chega à capital da República um jovem flautista provinciano de 20 anos, nascido em Itaocara, norte fluminense, em 22 de outubro de 1880*. Trazia em sua bagagem musical a passagem por diversas bandas de música de sua região e da zona da mata mineira limítrofe.

* conforme p. 13 do livro "PATÁPIO músico erudito ou popular?", consta 1881.

Quando Patápio Silva chegou ao Rio, encontrou uma cidade de contrastes. Do ponto de vista social, estes eram mais evidentes. A aristocracia desfrutava o auge da Belle Époque, época do colarinho duro, das chapeleiras da Rua do Ouvidor, dos bijoux de fantasie, da pianolatria, e a cidade se preparando para as grandes transformações do prefeito Pereira Passos.

Os menos favorecidos, muitos deles filhos de escravos ou simplesmente trabalhadores oriundos da zona rural, se amontoavam nos cortiços e cabeças de porco do centro , de onde seriam removidos em pouco tempo em razão das obras de remodelação, como a abertura da Avenida Rio Branco, inaugurada em 1905.

Do ponto de vista musical, ainda que houvesse uma acentuada preferência da aristocracia pela música européia de salão, de teatro ou da ópera, já estava sedimentado o abrasileiramento dos gêneros musicais importados (schottisch, valsa, polca, quadrilha...), quando o tango brasileiro, por exemplo, começa a ser aceito nos salões, quase sempre pelas mãos dos pianeiros, o choro anima as serenatas e pândegas noturnas e as bandas de música incluem em suas retretas, valsas dolentes e polcas saltitantes, já com sotaque brasileiro.

Este era o ambiente musical do Rio quando Patápio Silva chegou. É preciso lembrar que Patápio era de origem humilde e que, mesmo com sua iniciação musical nas bandas de música, deve ter sofrido grande impacto ao freqüentar o ambiente elitista, à época, do Instituto Nacional de Música, onde se matriculou em 1901, no 3º. ano.

Ali, estudou com o renomado Duque Estrada Meyer, e em 1903, concluiu o curso de flauta com nota máxima, obtendo medalha de ouro. É daí, certamente, que vem sua paixão pela música de concerto e por compositores virtuosísticos. Muito embora Callado, iniciador e organizador dos primeiros grupos de choro tenha sido professor laureado do Instituto, ainda em meados dos anos 20, podemos observar o ranço que havia ali contra a música popular. No seu livro, “Manual do Flautista”, Pedro de Assis, desafeto de Patápio por ciúmes, escrevia: “Infelizmente, a não ser no teatro da ópera ou opereta, qualquer conjunto orquestral do Rio de Janeiro, é atualmente obrigado a executar um repertório de música canalha como seja o samba, o tango, o maxixe, o foxtrote, o ragtime e quejandas baboseiras que aviltam, rebaixam e humilham os professores que de tais conjuntos fazem parte”.

Pedro de Assim, flautista, foi catedrático do Instituto Nacional de Música, e no seu livro cheio de auto-elogio, faz uma rápida alusão ao nome de Patápio, enquanto se desmancha em louvores de muitas linhas a nomes menos expressivos, hoje totalmente desconhecidos.

Em dezembro de 1903, o Instituto Nacional de Música (INM), realizou um concurso para flautistas no qual Patápio se inscreveu e saiu vencedor, concorrendo com diversos instrumentistas diplomados, entre eles Pedro de Assis.

O prêmio era uma flauta de prata que seria entregue em festa solene no mês de janeiro de 1904. No dia da cerimônia de premiação, o compositor e pianista Henrique Oswald, então diretor do Instituto, ao abrir o cofre onde estava a flauta, constatou que nada havia ali. O desaparecimento da flauta de Patápio repercutiu amplamente na imprensa. Em julho daquele ano, a flauta apareceu. Foi encontrada dentro de um armário, no próprio Instituto Nacional de Música.
Até em discos da Casa Edison, onde vez por outra havia os chamados ditos chistosos, o aparecimento da flauta foi lembrado, como no Odeon Record, número 40134, onde está gravado o choro “Felicidade”, de José Cavaquinho, com o Grupo do Malaquias( o que confirma a data da gravação, como sendo de 1904). O locutor (tudo indica que seja a voz do cantor Baiano) diz: “Sabem de uma coisa? A flauta do Patápio apareceu e já foi entregue a ele”.

Em 1907, com o objetivo de conseguir recursos para uma viagem de aperfeiçoamento à Europa, Patápio programa uma excursão ao sul do Brasil, estreando em Curitiba no mês de março. Em seguida, Florianópolis. Na capital catarinense, viria a falecer em 21 de abril, aos 26 anos, de causa não esclarecida, fato que gerou inúmeras histórias e hipóteses, uma destas, a de que Patápio teria sido envenenado.

PARA OUVIR O LENDÁRIO PATTAPIO SILVA:


Sonho

Primeiro Amor

Só para moer