Por: Raul Costa d'Avila
Universidade Federal de Pelotas
costadavila@gmail.com
1) INTRODUÇÃO
Cuidar da flauta deve ser uma obrigação de todo flautista. Como nós, o instrumento também necessita de cuidados, que, com certeza, ajudam no retorno que necessitamos em nossas atividades no dia-a-dia. Imagine-se numa situação em que você, precisando de seu instrumento, não poderá usá-lo porque perdeu um parafuso, soltou uma mola ou as sapatilhas estão fazendo aquele “ruído” indesejável. Realmente não precisamos ser um técnico especializado em reparos, entretanto, precisamos, e podemos ter, o mínimo de conhecimentos para que situações como as dos exemplos acima, caso ocorram, possam ser solucionadas, ou até mesmo evitadas.
Assim, minha idéia aqui é colaborar com os estudantes, amantes da flauta, e até mesmo profissionais ― se realmente for o caso ― no processo manutenção de seus instrumentos. Muitos destes ensinamentos me foram transmitidos por meu pai, outros pela experiência do dia-a-dia, e outros ainda em métodos e livros especializados. É bom lembrar, que com um simples cuidado na manutenção de seu instrumento pode-se evitar problemas em ocasiões inesperadas.
2) CUIDADOS GERAIS E BÁSICOS
- Sempre guarde o estojo com a flauta num lugar fora do alcance de crianças que não saibam como manuseá-la ou de pessoas curiosas. Isso pode evitar algo indesejado.
- NUNCA deixe a flauta montada em cima de uma cadeira ou cama. São locais de grande risco, pois, sem querer, podemos assentar no instrumento. Utilize, de preferência, uma mesa ou uma superfície plana, optando mais pelo centro, diminuindo o risco de queda.
- Mantenha sua flauta longe de fontes de calor (estufas, aquecedores) e também de fontes frias (mármore, pedras). Tanto o calor quanto o frio poderão alterar as sapatilhas, prejudicando seu perfeito funcionamento.
- Ao terminar seus estudos diários enxugue a flauta por dentro com um pano bem absorvente (fralda) e que não solte fiapos, enrolado numa vareta de madeira ou metal, eliminando qualquer umidade que possa estragar as sapatilhas.
- Após enxugar a flauta por dentro é aconselhável utilizar uma flanela para limpá-la por fora, tirando assim as marcas da transpiração. Isto pode evitar, especialmente nas flautas que são de metal e banho de prata, que as mesmas fiquem manchadas. No mecanismo, limpe as chaves uma a uma para que o seu funcionamento não seja prejudicado. Nunca use o mesmo pano para enxugar por dentro e por fora.
- NUNCA deixe a flauta dentro de porta-malas ou fechada dentro do carro. Além do calor que poderá sofrer indiretamente do sol, corre o risco de ser roubada!
- Periodicamente utilize um pincel de seda bem macio para limpar todo o mecanismo da flauta. Isto pode ser feito com ela montada e evita que a poeira vá acumulando nos eixos e mecanismos, além de mantê-la com melhor aparência.
- Sempre que possível observe se não há algum problema de vazamento nas soldas das chaminés (saliência dos orifícios onde as sapatilhas encostam, efetivando a oclusão) fato que normalmente acontece com flautas mais antigas. Tais vazamentos muitas vezes não podem ser visto a olho nu, mas prejudicam muito a sonoridade do instrumento, necessitando de cuidados especiais para recuperá-la.
3) CUIDADOS AO MONTAR E DESMONTAR A FLAUTA
- Evite montar ou desmontar a flauta apoiando o estojo nas pernas.
- Afaste-se de qualquer objeto que possa bater na flauta durante a montagem.
- Procure segurar sempre nas partes em que não têm mecanismos. Estes são muito frágeis e, quando segurados ou apertados indevidamente, podem trazer problemas.
- Sugestão de seqüência para montagem da flauta: primeiro segure com firmeza, com mão direita, o corpo da flauta pela parte aonde vem escrito a marca. Depois, com a mão esquerda, pegue o bocal e o encaixe girando-o, bem devagar, de modo que entre com facilidade. Após isto pegue o pé, com a mão esquerda, e o encaixe com um leve giro na base do corpo da flauta. Ajuste-o com muito cuidado, pois o encaixe final do corpo é muito curto e fino.
- Quanto ao alinhamento da flauta tomamos como referência as chaves do corpo. O bocal alinha-se o seu orifício com a chave do dó sustenido. O pé alinha-se de modo que seu eixo coincida com o meio das chaves do corpo.
- Certifique-se de que a flauta está bem acondicionada dentro do estojo. Muitas vezes ela pode ficar sacudindo dentro do estojo o que acaba afetando seu mecanismo e também arranhado-a. Solucione isto usando uma pequena flanela para ajustar a folga.
*** Sugiro aos estudantes que tocam em orquestras ou bandas tomarem cuidado com suas flautas nos intervalos de ensaio. É comum deixar os instrumentos sobre a cadeira (ou até em pedestais) durante o intervalo. Se por um lado é prático, por outro pode ser desastroso! Como prevenção, sugiro desmontar e guardar a flauta no estojo.
4) CUIDADOS COM AS SAPATILHAS
- As sapatilhas são responsáveis pela integridade do som da flauta. Qualquer problema nelas como folgas, sujeira, pequenos cortes, ressecamento, umidade excessiva, entre outros, causa conseqüências imediatas na resposta sonora da flauta. Muito embora sejam frágeis, quando bem cuidadas tem bastante durabilidade.
- Sempre que começar seu estudo escove os dentes. A saliva pode conter resquícios de alimentos (doces, café, biscoitos, entre outros) que em contato com as sapatilhas ficam aderidos a elas. Com o passar do tempo isto causa um pequeno ruído quando em contato com a chaminé.
- Para solucionar o problema apresentado acima, utilize o papel de seda apropriado. Coloque-o entre a chave e a chaminé e pressione a chave algumas vezes até que a sujeira seja eliminada.
**Caso não encontre o papel específico para sapatilhas de instrumentos, é possível utilizar a tradicional seda para fazer cigarros. Recomendo uma cujo papel é muito fino, vindo escrito na embalagem “papel de arroz”. Atenção para não deixar a parte com cola encostar na sapatilha.
- Quando der um intervalo em seu estudo, deixe a flauta sobre uma superfície com as chaves paralelas à superfície (chaves para cima). Isto evita que as minúsculas gotinhas de água, que se formam na parede interna do tubo devido a condensação, escorra encharcando as sapatilhas. Também tem a opção de utilizar o suporte específico para flauta, que além de manter a flauta na vertical, faz com que as gotinhas de água escorram pelo tubo, não encharcando as sapatilhas.
- Em locais onde a umidade relativa do ar tende a ser alta, é recomendável, após passar a vareta com o pano dentro do tubo, secar as sapatilhas utilizando a seda para sapatilhas. Este procedimento, além de eliminar a possibilidade de prejudicar a emissão das notas, pode proporcionar maior durabilidade às sapatilhas.
- As chaves do Ré#, Sol# e as duas pequenas dos trilos são as mais vulneráveis para encharcar. Portanto, é recomendável – sobretudo nos locais onde a umidade relativa é alta – utilizar periodicamente a seda própria para secar estas sapatilhas.
- NUNCA aperte as chaves de sua flauta com força. Isto não é natural e desgasta as sapatilhas, além de tensionar os dedos e mãos. Uma flauta bem sapatilhada nunca necessita de força para perfeito fechamento das chaves!
- Evite utilizar objetos com ponta para mexer ou limpar as sapatilhas. O risco de cortá-la é grande.
5) LUBRIFICANDO O MECANISMO DA FLAUTA
- É aconselhável que periodicamente (dependendo do uso, a cada 4 ou 6 meses) você lubrifique o mecanismo de sua flauta. O uso no dia-a-dia, após horas de estudo, naturalmente desgasta os eixos e para repor isto nada melhor do que um óleo bem fino.
- Utilize um óleo bem fino e específico para o instrumento (não use Singer ou outros do gênero! Procure lubrificantes específicos para instrumentos) O local precisa ser bem iluminado e a superfície onde se vai trabalhar preferencialmente plana e larga. Pingue algumas gotas em um pires e com uma agulha bem fina e longa (tipo aquelas utilizada para tirar sangue) execute a operação levando-a ao óleo do pires e depois aos eixos. É um trabalho que precisa de cuidado e paciência O resultado é ótimo, pois além do mecanismo ficar mais leve e ágil, evita-se o desgaste do metal, que, ao longo do tempo, pode até provocar uma folga no mecanismo.
- Tome cuidado para não deixar óleo cair nas sapatilhas, pois isto pode danificá-la. Nada de óleo em excesso.
6) O BOCAL DA FLAUTA
- O bocal é a parte de aspecto mais simples, pois se vê somente a embocadura (porta-lábio) com sua abertura oval, soldada ao bocal, de perfil arredondado, para permitir ao flautista apoiá-lo com firmeza sobre o queixo. É um elemento muito frágil e muito importante da flauta. Todos os detalhes de sua construção (local da rolha, vedação, ângulo de solda do porta-lábio, formato do orifício, conicidade) determinam a qualidade e a precisão do som do instrumento.
- O bocal está fechado à esquerda por uma rolha. Feita por uma cortiça é furada ao meio por onde passa uma um pino rosqueado. Na extremidade direita do pino é soldado uma placa metálica e na extremidade esquerda temos um arremate em forma de um chapeuzinho.
- Periodicamente confira, com o auxílio da vareta, a regulagem da rolha. É muito importante, para a afinação, manter a marca da vareta exatamente no centro do orifício do bocal. Portanto coloque a vareta dentro do bocal e verifique se no meio do orifício do bocal encontra-se a marca da vareta. Se positivo, maravilha; caso contrário, solte um pouco o chapeuzinho (ou coroa) do bocal e faça cuidadosamente a regulagem.
- Nunca mexa no porta lábio, pois qualquer alteração afeta no resultado da sonoridade da flauta. Como sugestão, recomendo periodicamente fazer uma limpeza na parede interna do orifício do porta-lábio. Ao longo do tempo é comum acumular ali alguns resíduos que podem prejudicar a qualidade do som. Assim, com um cotonete molhado, esfregue-o com cuidado na parede, procurando remover toda a possível sujeira. Se for o caso, use um pouco de abrasivo (lustra prata) com muita parcimônia, deixando limpa e polida a parede. Logo em seguida experimente tocar, você se surpreenderá!
Bons Cuidados e Boa Sorte!
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